Não foi só o livro. O autor emigrou após as revelações
que atingiram Mário Soares.
O livro "Contos proibidos: Memória de um PS
desconhecido", de Rui Mateus, revela casos de tráfego de influências dentro do
PS.
01 de Setembro de 2009 in “ionline.pt” por Enrique
Pinto-Coelho
Fixe bem esta data:
27 de Janeiro de 1996. Era um sábado e o público português assistiu a um
fenómeno sem precedentes: um livro, escrito por um autor nacional, vendeu 30 000
exemplares no lançamento. Depois foi retirado do mercado e nunca mais
reapareceu.
"Contos proibidos. Memórias de um PS desconhecido" foi a
obra "mais atrevida", segundo Nelson de Matos, a pessoa que o publicou na Dom
Quixote. Numa entrevista ao "Expresso", em 2004, o editor negou ter sofrido
pressões ou ameaças, mas denunciou a existência de "comentários negativos" que
lhe causaram "bastantes dificuldades pessoais". "A todos expliquei que o livro
existia", disse na altura. "Tinha revelações importantes e procurava ser sério
ao ponto de as provar. Desse ponto de vista, achei que merecia ser discutido na
sociedade."
Nelson de Matos é também, provavelmente, uma das poucas
pessoas que conhece o paradeiro do autor - a hipótese mais repetida é a Suécia,
mas ninguém está em condições de confirmar nada. O escritor, tal como acontecera
antes com o bestseller instantâneo, desapareceu sem deixar rasto.
Dez anos mais tarde, o jornalista Joaquim Vieira
publicou cinco textos sobre o assunto na "Grande Reportagem". Em conversa com o
i, recorda que "quando o livro saiu, o Rui Mateus foi entrevistado pelo
Miguel Sousa Tavares na SIC, e a primeira pergunta que este lhe fez foi: 'Então,
como é que se sente na pele de um traidor?' Toda a entrevista decorreu sob essa
ideia."
Mas o que continha o livro afinal? Qual o motivo para as
desaparições? Retomando a síntese de Vieira, que o analisou a fundo, Rui Mateus
diz que Mário Soares, "após ganhar as primeiras presidenciais, em 1986, fundou
com alguns amigos políticos um grupo empresarial destinado a usar fundos
financeiros remanescentes da campanha. (...) Que, não podendo presidir ao grupo
por questões óbvias, Soares colocou os amigos como testas-de-ferro".
O investigador Bernardo Pires de Lima também leu o livro
e conserva um exemplar. "Parece-me evidente que desapareceu de circulação
rapidamente por ser um documento incómodo para muita gente, sobretudo altas
figuras do PS, metidas numa teia de tráfico de influências complicada que o
livro não se recusa a revelar com documentos", observa.
A obra consta de dez capítulos e 47 anexos. Ao todo, 455
páginas que arrancam na infância do autor, percorrem o primeiro quarto de século
do PS (desde as origens na clandestinidade da Acção Socialista) e acabam em
1995, perto do final do segundo mandato de Soares. Na introdução, Mateus
escreve: "É um livro de memórias em redor do Partido Socialista, duma
perspectiva das suas relações internacionais, que eu dirigira durante mais de
uma década."
Os últimos três capítulos abordam o caso Emaudio - um
escândalo rebentado pelo próprio Mateus e que motivou a escrita de "Contos
proibidos" para "repor a verdade". Para Joaquim Vieira e Bernardo Pires de Lima,
a credibilidade do livro é de oito sobre dez. "O livro adianta imensos detalhes
que reforçam a sua credibilidade e nenhum deles foi alguma vez desmentido",
argumenta o jornalista e actual presidente do Observatório da
Imprensa.
Vieira lamenta o "impacto político nulo e nenhuns
efeitos" das revelações de Mateus. "Em vez de investigar práticas porventura
ilícitas de um chefe de Estado, os jornalistas preferiram crucificar o autor
pela 'traição' a Soares." Apesar de, na estreia, terem tido todas as coberturas,
livro e autor caíram rapidamente no esquecimento. Hoje, a obra pulula na
internet em versão PDF.
Rui Mateus - Contos
Proibidos
Para descarregar a obra (50 megabytes,
aprox), basta clicar aqui.
Ler "Contos Proibidos: Memórias de um PS
desconhecido", de Rui Mateus, – fundador e ex-responsável pelas relações
internacionais do PS, até 1986 – faz-nos perceber como é diferente a justiça em
Portugal e noutros países da Europa.
Escrito em 1996, este livro é um retrato da
personalidade de Mário Soares, antes e depois do 25 de Abril. Com laivos de
ajuste de contas entre o autor e demais protagonistas socialistas, são
abordados, entre outros assuntos, as dinâmicas de apoio internacional ao Partido
Socialista e, em particular, a Soares, vindos de países como os EUA, Suécia,
Itália, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Líbia, Noruega, Áustria ou
Espanha.
Soares é descrito como alguém que «tinha uma poderosa
rede de influências sobre o aparelho de Estado através da colocação de amigos
fiéis em postos-chaves, escolhidos não tanto pela competência mas porque podem
permitir a Soares controlar aquilo que ele, efectivamente, nunca descentralizará
– o poder» (pp.151-152); «para ele, o Partido Socialista não era um instrumento
de transformação do País baseado num ideal generoso, mas sim uma máquina de
promoção pessoal» (p.229); e como detendo «duas faces: a do Mário Soares afável,
solidário e generoso e a outra, a do arrogante, egocêntrico e autoritário»
(p.237).
A teia montada em torno de Soares, com um cunhado como
tesoureiro do partido, e as lutas internas fratricidas entre novos/velhos
militantes (Zenha, Sampaio, Guterres, Cravinho, Arons de Carvalho, etc.), que
constantemente ameaçavam a primazia e o protagonismo a Soares, são descritos com
minúcia em /Contos Proibidos/.
Grande parte dos líderes da rede socialista
internacional – uma poderosa rede de “entreajuda” europeia que, em boa verdade,
só começou a render ao PS depois dos EUA, sobretudo com Carlucci, terem dado o
passo decisivo de auxílio a Portugal – foi mais tarde levada à barra dos
tribunais e muitos deles condenados, como Bettino Craxi de Itália, envolvidos em
escândalos, como Willy Brandt, da Alemanha, ou assassinados como o sueco Olaf
Palme.
Seria interessante todos lermos este livro. Relê-lo já
será difícil, a não ser que alguém possua esta raridade.
O livro foi rapidamente retirado de mercado após a curta
celeuma que causou (há quem diga que “alguém” comprou toda a edição) e de Rui
Mateus pouco ou nada se sabe.
Pois eles andam de carteira cheia e o povo que se lixe.
ResponderEliminarO Miguel Sousa Tavares teve uma entrevista vergonhosa, miserável. Própria de um cúmplice de quadrilha e não de um jornalista.
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